Neste mês, relatos vieram da cidade síria de Qusayr a respeito de um
alerta criminoso aos cristãos da cidade: juntem-se à oposição liderada
pelos sunitas contra Bashar al Assad ou partam. Logo depois, milhares de
cristãos fugiram da cidade.
Após décadas de proteção por uma ditadura de inclinação secular, o ultimato em Qusayr alertou para um futuro sombrio para a comunidade cristã na Síria. À medida que prossegue o conflito de 15 meses sem nenhum fim em vista, muitas minorias da Síria se veem face a face com a ameaça emergente representada pelos radicais islâmicos sunitas. Esses elementos se estabeleceram como um fator chave no futuro da Síria, apoiados por imenso suporte político e econômico do mundo árabe e pela indiferença do Ocidente.
Ao longo dos anos, os cristãos, como muitas outras minorias na região, deram seu apoio a esses regimes que garantiam sua segurança e liberdade religiosa. No Iraque, os cristãos ascenderam aos cargos mais altos da sociedade sob o regime de Saddam Hussein, enquanto no Egito, os cristãos coptas eram protegidos dos salafistas ultraconservadores sob Hosni Mubarak. Como líderes seculares da reservada seita alauita, a dinastia Assad protegeu em grande parte a vida cristã, protegendo as minorias da Síria do que era visto como a ameaça coletiva da maioria sunita do país.
Ao verem seus ditadores protetores caírem feito dominós por toda a região, os cristãos repentinamente se viram no lado errado da história. Diante da maré crescente de islamismo sunita radical, os cristãos no Iraque e no Egito fugiram aos milhares. Na Síria, a preocupação com a repressão aos cristãos tem caído em ouvidos moucos, abafada pelo apoio popular à oposição do país diante da repressão brutal ao regime de Assad.
Em março deste ano, meses antes do ultimato em Qusayr, militantes islâmicos da Brigada Faruq de oposição foram de porta em porta nos bairros de Hamidiya e Bustan al Diwan, em Homs, expulsando os cristãos locais. Após as batidas, cerca de 90% dos cristãos teriam trocado a cidade por áreas controladas pelo governo, países vizinhos ou um trecho próximo da fronteira libanesa, chamado Vale dos Cristãos (Wasi al Nasarah). Dos mais de 80 mil cristãos que viviam em Homs antes do levante, aproximadamente 400 permanecem hoje.
A limpeza dos bairros cristãos de Homs ocorreu enquanto os militares sírios bombardeavam a fortaleza da oposição sunita de Baba Amr, voltando naturalmente as histórias na mídia internacional às crianças mutiladas pelas balas de atiradores e balas de artilharia pesada de Assad. Na ONU, os oponentes de Assad não podiam se dar ao luxo de destacar a perseguição aos cristãos em Homs, sob risco de fortalecerem a campanha liderada pelos russos para preservar o governo do ditador, ao fazer os rebeldes sírios perderem sua legitimidade devido às suas atrocidades.
À medida que as forças rebeldes continuam tomando aos poucos o controle de Assad no país, os cristãos da Síria continuam sendo expulsos ou mantidos à mercê de uma oposição sunita cada vez mais extremista.
Para a mais recente geração de jihadistas sunitas, a Síria se tornou a mais recente frente na luta para tomar o controle da região das seitas religiosas rivais e da ocupação estrangeira. Muitos desses combatentes vêm de vários locais do norte da África e do golfo, chegando à Síria com armas, fundos e uma ideologia radical.
Dentro da Síria, a relutância da comunidade internacional em impedir o massacre por Assad tem deixado a população sunita com sentimentos de isolamento e abandono, levando um grande número de jovens aos braços dos clérigos radicais. Essa ideologia sem compromisso deixa pouco espaço no futuro da Síria para as muitas minorias do país – incluindo os cristãos.
Salvar a comunidade cristã da Síria é coerente com os interesses estratégicos do Ocidente. Se as experiências no Iraque e Egito servirem como indicação, a intolerância religiosa gera insegurança e volatilidade. O caso sírio não é diferente. Os oponentes de Assad em ambos os lados do Atlântico devem impedir os radicais islâmicos de se infiltrarem na oposição síria e devem adotar uma posição firme contra seus patrocinadores no golfo.
Como já disse Kamal Jumblatt, o ex-líder da minoria drusa do Líbano, “no Oriente Médio há espaço para todos os homens, mas não para suas ambições”. O próprio Jumblatt acabou sendo assassinado pelas mãos de Hafez al Assad, mas suas palavras permanecem verdadeiras até hoje.
A queda do regime Assad se tornou uma obrigação moral global, assim como o dever de assegurar que haja um lugar para todas as minorias no futuro da Síria.
(Daniel Brode, Roger Farhat e Daniel Nisman são analistas de inteligência da Max Security Solutions, uma consultoria de risco geopolítico com sede no Oriente Médio. Eles são especializados em questões sírio-libanesas.)
Após décadas de proteção por uma ditadura de inclinação secular, o ultimato em Qusayr alertou para um futuro sombrio para a comunidade cristã na Síria. À medida que prossegue o conflito de 15 meses sem nenhum fim em vista, muitas minorias da Síria se veem face a face com a ameaça emergente representada pelos radicais islâmicos sunitas. Esses elementos se estabeleceram como um fator chave no futuro da Síria, apoiados por imenso suporte político e econômico do mundo árabe e pela indiferença do Ocidente.
Ao longo dos anos, os cristãos, como muitas outras minorias na região, deram seu apoio a esses regimes que garantiam sua segurança e liberdade religiosa. No Iraque, os cristãos ascenderam aos cargos mais altos da sociedade sob o regime de Saddam Hussein, enquanto no Egito, os cristãos coptas eram protegidos dos salafistas ultraconservadores sob Hosni Mubarak. Como líderes seculares da reservada seita alauita, a dinastia Assad protegeu em grande parte a vida cristã, protegendo as minorias da Síria do que era visto como a ameaça coletiva da maioria sunita do país.
Ao verem seus ditadores protetores caírem feito dominós por toda a região, os cristãos repentinamente se viram no lado errado da história. Diante da maré crescente de islamismo sunita radical, os cristãos no Iraque e no Egito fugiram aos milhares. Na Síria, a preocupação com a repressão aos cristãos tem caído em ouvidos moucos, abafada pelo apoio popular à oposição do país diante da repressão brutal ao regime de Assad.
Em março deste ano, meses antes do ultimato em Qusayr, militantes islâmicos da Brigada Faruq de oposição foram de porta em porta nos bairros de Hamidiya e Bustan al Diwan, em Homs, expulsando os cristãos locais. Após as batidas, cerca de 90% dos cristãos teriam trocado a cidade por áreas controladas pelo governo, países vizinhos ou um trecho próximo da fronteira libanesa, chamado Vale dos Cristãos (Wasi al Nasarah). Dos mais de 80 mil cristãos que viviam em Homs antes do levante, aproximadamente 400 permanecem hoje.
A limpeza dos bairros cristãos de Homs ocorreu enquanto os militares sírios bombardeavam a fortaleza da oposição sunita de Baba Amr, voltando naturalmente as histórias na mídia internacional às crianças mutiladas pelas balas de atiradores e balas de artilharia pesada de Assad. Na ONU, os oponentes de Assad não podiam se dar ao luxo de destacar a perseguição aos cristãos em Homs, sob risco de fortalecerem a campanha liderada pelos russos para preservar o governo do ditador, ao fazer os rebeldes sírios perderem sua legitimidade devido às suas atrocidades.
À medida que as forças rebeldes continuam tomando aos poucos o controle de Assad no país, os cristãos da Síria continuam sendo expulsos ou mantidos à mercê de uma oposição sunita cada vez mais extremista.
Para a mais recente geração de jihadistas sunitas, a Síria se tornou a mais recente frente na luta para tomar o controle da região das seitas religiosas rivais e da ocupação estrangeira. Muitos desses combatentes vêm de vários locais do norte da África e do golfo, chegando à Síria com armas, fundos e uma ideologia radical.
Dentro da Síria, a relutância da comunidade internacional em impedir o massacre por Assad tem deixado a população sunita com sentimentos de isolamento e abandono, levando um grande número de jovens aos braços dos clérigos radicais. Essa ideologia sem compromisso deixa pouco espaço no futuro da Síria para as muitas minorias do país – incluindo os cristãos.
Salvar a comunidade cristã da Síria é coerente com os interesses estratégicos do Ocidente. Se as experiências no Iraque e Egito servirem como indicação, a intolerância religiosa gera insegurança e volatilidade. O caso sírio não é diferente. Os oponentes de Assad em ambos os lados do Atlântico devem impedir os radicais islâmicos de se infiltrarem na oposição síria e devem adotar uma posição firme contra seus patrocinadores no golfo.
Como já disse Kamal Jumblatt, o ex-líder da minoria drusa do Líbano, “no Oriente Médio há espaço para todos os homens, mas não para suas ambições”. O próprio Jumblatt acabou sendo assassinado pelas mãos de Hafez al Assad, mas suas palavras permanecem verdadeiras até hoje.
A queda do regime Assad se tornou uma obrigação moral global, assim como o dever de assegurar que haja um lugar para todas as minorias no futuro da Síria.
(Daniel Brode, Roger Farhat e Daniel Nisman são analistas de inteligência da Max Security Solutions, uma consultoria de risco geopolítico com sede no Oriente Médio. Eles são especializados em questões sírio-libanesas.)
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